
As mudanças no comércio durante a Baixa Idade Média foram significativas e tiveram um impacto profundo na economia europeia. Esse período foi caracterizado por mudanças dramáticas na estrutura social, na organização política e nas relações econômicas entre as nações.
A Baixa Idade Média começou após o fim do Império Romano do Ocidente no século XI ao século XV. Durante esse período, o comércio europeu sofreu mudanças radicais, principalmente devido a fatores como a expansão geográfica do comércio, o surgimento de novas rotas comerciais e a evolução das técnicas de produção.
Uma das mudanças mais significativas no comércio da Baixa Idade Média foi a expansão geográfica. O comércio europeu se expandiu muito além das fronteiras do continente. Os comerciantes europeus estabeleceram rotas comerciais com o Oriente Médio, a Índia e a China. Essas rotas comerciais foram chamadas de "Rota da Seda" e foram um importante canal de comércio para especiarias, seda e outros bens exóticos.

A expansão geográfica do comércio também levou à criação de novas rotas comerciais. Por exemplo, a rota marítima para a Índia foi descoberta pelos portugueses no final do século XV, o que levou a uma intensificação do comércio com a Índia e o Extremo Oriente. Essas rotas comerciais levaram à criação de centros comerciais importantes, como Veneza, Gênova e Amsterdã.
Outra mudança significativa no comércio da Baixa Idade Média foi a evolução das técnicas de produção. Durante esse período, houve um aumento significativo na produção de mercadorias e um aumento na eficiência da produção. Isso ocorreu em grande parte devido à introdução de novas técnicas de produção, como o tear mecânico e o moinho de vento.

O tear mecânico, por exemplo, permitiu que os tecelões produzissem tecidos de alta qualidade a um ritmo muito mais rápido do que era possível anteriormente. Isso tornou possível para os comerciantes europeus produzirem tecidos de alta qualidade a preços muito mais baixos, o que aumentou a demanda por esses produtos. Da mesma forma, o moinho de vento permitiu que os produtores de farinha produzissem farinha a um ritmo muito mais rápido, o que levou a uma maior disponibilidade de pão e outros produtos assados.
Além disso, a Baixa Idade Média também foi caracterizada pela emergência de novas cidades comerciais. Essas cidades se tornaram importantes centros de comércio e indústria, e desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento da economia europeia. Cidades como Florença, Bruges e Hamburgo se tornaram importantes centros de comércio e manufatura, e a economia dessas cidades se tornou cada vez mais baseada no comércio.

Nessas novas cidades comerciais, surgiram guildas de comerciantes e artesãos. As guildas eram associações de pessoas que trabalhavam na mesma profissão ou comércio e que se uniam para proteger seus interesses e garantir a qualidade de seus produtos. As guildas também desempenharam um papel importante na regulação do comércio e na garantia de que os preços e a qualidade dos produtos fossem justos para os consumidores.
Outra mudança importante no comércio da Baixa Idade Média foi a evolução dos sistemas monetários. Durante esse período, surgiram novas moedas e sistemas monetários que facilitaram o comércio e a troca de bens. O desenvolvimento de moedas como o florim, o escudo e o ducado tornou mais fácil a negociação de bens e serviços, além de ajudar a padronizar os preços em toda a Europa.
Essas mudanças no comércio da Baixa Idade Média também tiveram um impacto significativo no sistema feudal que dominou a Europa durante esse período. O sistema feudal era baseado em relações de vassalagem entre senhores feudais e seus súditos. No entanto, o crescimento do comércio levou à emergência de uma classe de comerciantes e empresários que não estavam ligados ao sistema feudal.

Essa nova classe de comerciantes e empresários começou a desafiar a ordem feudal e a buscar novas formas de poder e influência. Eles começaram a investir em negócios e a acumular riqueza, o que lhes permitiu se tornar mais independentes e influentes. Isso levou a conflitos entre a classe dos comerciantes e empresários e a nobreza feudal, que tentou manter seu poder e influência.
Além disso, o crescimento do comércio também levou a um aumento da competição entre as nações europeias. Os países começaram a buscar novas rotas comerciais e a competir pela dominação do comércio de especiarias e outros bens exóticos. Isso levou a conflitos entre as nações europeias, como a Guerra dos Cem Anos entre a França e a Inglaterra.
No entanto, mesmo parecendo controverso, o comércio também levou a um aumento da cooperação entre as nações europeias. O crescimento do comércio levou à criação de novas alianças comerciais e tratados entre as nações europeias. Por exemplo, a Liga Hanseática foi uma aliança comercial de cidades do norte da Europa que se uniram para proteger seus interesses comerciais e garantir a segurança de suas rotas comerciais.
Por fim, o comércio na Baixa Idade Média também foi influenciado pela religião. Os cruzados que viajavam para a Terra Santa trouxeram novos produtos e ideias para a Europa, e a Igreja Católica estabeleceu rotas comerciais seguras para peregrinos que viajavam para locais sagrados. Além disso, as ordens religiosas estabeleceram feiras e mercados para levantar fundos para seus projetos de caridade.

Contudo, nem todas as mudanças no comércio foram positivas. A busca por lucros levou a uma exploração de trabalhadores e recursos naturais, e a competição comercial frequentemente levou a conflitos entre cidades e países. Além disso, a religião muitas vezes influenciava o comércio, o que podia levar a exclusão de grupos religiosos minoritários.
Apesar das críticas, é inegável que o comércio na Baixa Idade Média proporcionou a base para o desenvolvimento da economia moderna na Europa. As mudanças no comércio criaram novas oportunidades para a produção e a distribuição de bens, estimularam a inovação e o crescimento econômico, e ajudaram a criar um mundo interconectado que se estende até os dias de hoje.
Sugestão de leitura:

"A civilização do Ocidente Medieval" é um livro do historiador francês Jacques Le Goff que aborda a história da Europa Ocidental no período que vai do século V ao XV. Le Goff apresenta uma visão ampla e complexa desse período histórico, abrangendo tanto a história política quanto a social, cultural e econômica.
O livro está dividido em três partes: a primeira trata da Idade Média como um período de transição entre a Antiguidade Clássica e a Idade Moderna, a segunda se concentra no desenvolvimento da sociedade feudal e da cultura religiosa e a terceira discute a crise do mundo medieval e o surgimento da modernidade.
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